Dicas para responder questões de múltipla escolha

30/09/2017 - 08h00

Foto: Morguefile - quicksandala


Em outro texto, falamos das dicas para responder questões do tipo “falso ou verdadeiro”. Se você não viu, confira no link que coloquei ao final deste texto aqui. Muitas das dicas que passei naquela oportunidade também valem para as questões de múltipla escolha, especialmente as expressões que chamei de “absolutistas” ou radicais, bem como as expressões que relativizam a resposta e que, quase sempre, indicam que a resposta é verdadeira.

Em relação às questões de múltipla escolha, há algumas dicas específicas e outras que podem ser aplicadas a quaisquer tipos de perguntas. Vamos ver cada uma delas.

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1. Saiba o que está sendo perguntado

Essa é uma dica que vale para qualquer prova, com qualquer tipo de questão. Mas, começo por ela por ser uma das lições mais ignoradas pelos estudantes. Em geral, o erro acontece porque a pessoa lê o enunciado da questão com muita rapidez e ignora seus detalhes, levando a escolher de supetão uma alternativa que é contrária ao que se está pedindo na pergunta.

O que geralmente leva o candidato a errar são expressões como:

- Em relação aos contratos, quais desses princípios não são aplicáveis...

- São modalidades de medidas cautelares diversas da prisão, exceto...

O risco é o candidato não se atentar para o fato de que o examinador quer saber, nesses casos, qual é a exceção, não qual é a regra.

Fora isso, há ainda outras expressões com as quais se deve ter cuidado. A maioria delas, já citei quando falei das dicas para questões do tipo “falso ou verdadeiro”. Reveja meu texto para se aprofundar.

A minha sugestão é que você leia com muita atenção o enunciado da pergunta, não apenas para evitar as armadilhas dessas expressões, mas também para compreender com exatidão o que o examinador quer. Saber qual é a pergunta é essencial para conseguir identificar a resposta. Essa pode parecer uma afirmação generalista e óbvia, mas você não imagina o quanto de gente fica pelo meio do caminho por não se atentar a essa regra básica.

2. Descarte as alternativas claramente erradas

Em uma questão com cinco alternativas, ao menos duas delas costumam ser claramente contrárias ao que o examinador deseja. Identificar desde logo quais são essas alternativas descartáveis é o primeiro passo para você conseguir acertar a questão. Quando eu fazia provas, eu usava essa técnica. Meu costume sempre foi fazer a prova na sequência das perguntas e, desde a primeira leitura, eu já identificava as alternativas que seguramente deveriam ser descartadas, riscando-as. Se não chegasse à resposta exata nessa primeira leitura, eu passava para frente e seguia até o final da prova. Depois, voltava ao começo e repassava as questões, uma tarefa que ficava mais fácil por eu não ter mais que analisar o que já tinha sido descartado.

3. Não leia as alternativas antes de tentar formular a própria resposta

O texto das alternativas dadas pelo examinador pode te distrair e causar confusão. Por isso, a recomendação de muitos especialistas, e que faz bastante sentido, é você ler o enunciado da questão e tentar imaginar a resposta possível para ele, antes mesmo de olhar as opções dadas pelo examinador. Claro, isso não será possível quando você tiver enunciados como “Marque a alternativa correta:”. Mas, na maioria dos casos, é algo que você pode fazer.

Um exemplo, tirado da prova do TER/Paraná:

João, com dezesseis anos de idade e não emancipado, filho de José e Maria, foi autorizado por seus pais, que são médicos e residiam na cidade de Campo Mourão, a morar com os avós maternos em Curitiba, a fim de matricular-se na escola de sua preferência. Chegando a Curitiba e já instalado, João alistou-se eleitor. No mesmo dia do embarque do filho, seus pais transferiram a residência definitivamente para Londrina, passando ambos a clinicar três dias da semana nessa cidade e a mãe, em dois dias alternados, também na cidade de Arapongas, enquanto o pai, também em dois dias alternados, na cidade de Cornélio Procópio, viajando e retornando a Londrina, no fim de cada dia de trabalho, naquelas cidades. Nesse caso, o domicílio de João é:

a) em Campo Mourão.

b) em Curitiba.

c) em Londrina.

d) plural, em Londrina, Arapongas e Cornélio Procópio.

e) plural, em Londrina e Curitiba.

A recomendação, em um caso assim, é que você não olhe para as alternativas antes de refletir qual seria a resposta correta, ou seja, qual seria o domicílio de João. A intenção, como dito, é evitar que você se distraia com as possibilidades dadas pelo examinador. Formule a sua própria, depois leia as alternativas e veja se alguma delas se enquadra na resposta que você mesmo criou. Claro, antes de ter essa resposta como a correta, reflita novamente sobre a pergunta, agora a partir das alternativas dadas pelo examinador.

4. Não fique parado muito tempo em uma questão

Vá analisando as questões e tentando encontrar a alternativa correta. Se não for possível desde logo, exclua as opções que se mostram claramente incorretas, como já sugeri. Feito isso, passe para a questão seguinte.

Essa recomendação, que não é só minha, mas de muitos especialistas, tem suas razões. Quando você passa muito tempo em uma única questão, você aumenta as suas chances de errar outra pergunta por ter pouco prazo para analisá-la. Tempo é um recurso escasso na maioria das provas. Outra razão é que, quanto mais você demora em uma questão, maiores são as chances de você começar a se sentir inseguro. Sinceramente? Insegurança é tudo o que você não precisa no meio de uma prova de concurso.

Por isso, a sugestão é você, ao encontrar uma pergunta muito difícil, passar para a seguinte. Depois, você terá a chance de voltar a ela. Quando fizer isso, é possível que o seu cérebro já tenha movimentado aquele baú lá no fundo, aquele estudo que estava guardado e que não veio na primeira leitura da questão, para ajudar você a encontrar a resposta ou, no mínimo, para achar as alternativas absurdas.

5. Finalize as questões sobre as quais você está certo da resposta

Por outro lado, se você está 100% seguro de que a alternativa “D” é a correta para a pergunta nº 35, então já assinale desde logo aquela alternativa e dê a questão como finalizada. Isso vai aumentar a sua confiança e vai fazer com que você não perca tempo voltando a uma pergunta em relação à qual já há certeza quanto à resposta. Lembre-se: dê mais atenção ao que realmente precisa de mais atenção.

Por fim, apenas uma ressalva: finalizar as questões sobre as quais você está 100% seguro não significa já marcar no gabarito a resposta. Apenas assinale na questão qual é a alternativa escolhida e faça alguma marca para indicar que você está seguro daquilo. Depois, quando você for marcar o gabarito, se houver tempo, você poderá dar uma última olhada para se certificar da sua escolha.

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Essas dicas são bastante seguras para você encaminhar a sua prova rumo ao sucesso. Veja também o que falei sobre expressões absolutistas e expressões relativistas. São sugestões meio óbvias, como eu disse, mas ignoradas pela maioria das pessoas.

Pesquisando sobre o tema, encontrei ainda outras dicas, mas não posso dizer que elas realmente são certeiras, pois teria que fazer, eu mesmo, uma pesquisa estatística para confirmar a validade delas. De toda sorte, vou repassar o que encontrei nas minhas leituras:

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a) “Todas as alternativas estão corretas”

Há algumas questões que trazem como última alternativa o famoso texto:

e) Todas as alternativas estão corretas

Em minhas pesquisas, encontrei estatísticas no sentido de que 52% dos enunciados que trazem esse tipo de alternativa têm, como resposta correta, justamente ela. Não sei até que ponto isso é verdadeiro. Mas, se eu não tivesse a menor noção de qual alternativa escolher, talvez optasse por “Todas as alternativas estão corretas”.

Note que há questões que trazem outro tipo de possibilidade: “Nenhuma das alternativas acima está correta”. Em minhas leituras, vi especialistas dizendo tanto que essa opção costuma ser a correta quanto que costuma ser incorreta. Por isso, não me arrisco a dizer nada sobre ela.

b) Repare na resposta da pergunta anterior e da pergunta seguinte

Outra dica que não comprovei estatisticamente, mas que vale passar. Segundo alguns analistas de provas, a tendência é o examinador não repetir alternativas. Assim, se a questão nº 17 tem como resposta a alternativa “B” e a questão nº 19 tem como resposta a alternativa “A”, muito provavelmente a questão do meio, ou seja, a de nº 18, não terá como resposta as alternativas “A” ou “B”.

Isso é válido? Não dá para saber sem uma pesquisa. Olhando gabaritos, a gente encontra vários que trazem sequências de alternativas iguais. Mas, a impressão é de que realmente o examinador evita repetir alternativas na sequência.

A minha sugestão, assim, não é que você simplesmente assuma que a resposta correta de uma questão é uma alternativa diferente das questões anterior e seguinte, mas que você apenas leia com mais carinho e atenção tais alternativas, pois há uma chance delas realmente não serem as corretas. Em resumo, se você sabe que a resposta da pergunta nº 25 é a letra “D” e a resposta da pergunta nº 27 é a letra “B”, analise com cuidado as alternativas “B” e “D” da questão nº 26, pois pode ser que realmente elas não sejam as corretas, seguindo essa linha de que, na maioria dos casos, o examinador evita repetir alternativas na sequência.

c) Escolha a alternativa com texto mais longo

Também não fiz uma análise estatística para saber se isso é verdade. Essa dica é feita com base no pressuposto de que o examinador tem que construir um enunciado para a alternativa correta que faça com que ela realmente seja inquestionável, o que demandaria uma quantidade maior de texto.

Sugiro sair marcando as alternativas com respostas mais longas? Não! Sugiro apenas, já que a gente não fez uma conferência estatística dessa afirmação, que você apenas preste mais atenção às alternativas com textos grandes, já que o argumento realmente é razoável, no sentido de que o examinador precisa de mais palavras para evitar que a resposta correta deixe margem a dúvidas.

d) A maioria das questões têm como resposta as letras “B” ou “C”

Mais uma dica que li sem fundamento estatístico claro. O argumento dos analistas é que o examinador tende a “esconder” a resposta correta entre as alternativas, razão pela qual as opções do meio (geralmente as letras “B” e “C”) seriam as preferidas. Difícil dizer, viu. Acho que esse pensamento vale mais para você prestar atenção redobrada às opções intermediárias do que para ir marcando direto uma das duas.

e) A resposta está nas alternativas similares

Para ser sincero, entre as dicas que encontrei e que demandavam uma pesquisa estatística para a comprovação da eficácia, essa foi a que achei mais interessante e lógica. O raciocínio é simples: se há cinco alternativas e três delas são muito parecidas, é bem provável que a resposta correta realmente seja uma dessas três alternativas, pois a tendência é o examinador criar respostas parecidas para ver se você realmente conhece do assunto e se está atento aos detalhes. Faz sentido, não?

f) Alternativas que se opõem

Pensando bem, essa é outra dica que é tão interessante e lógica quanto a anterior. Se você tem uma pergunta e duas alternativas se relacionam a ela, mas se opõem de forma radical, é possível que a resposta esteja em uma delas. Vamos a um exemplo bem banal, mas que ilustra o raciocínio:

Sobre os biomas brasileiros, é possível afirmar:

a) Existem cerca de 2.000 espécies de plantas na Amazônia.

b) A Amazônia, apesar do seu tamanho, tem poucas espécies de plantas.

c) Há uma grande quantidade de espécies de plantas na Amazônia.

d) Não há estudos confiáveis sobre as espécies de plantas do Cerrado.

Eu inventei essa questão, então não repare se você achar que ela é absurda. Mas, concentre-se nas alternativas B e C. Elas não são opostas? Então é grande a chance de uma das duas ser a correta.

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Essas são algumas dicas para você enfrentar os testes de múltipla escolha. Ressalto, como sempre, que a principal dica é estudar muito, dedicando-se ao máximo à sua preparação. Esse é o único caminho seguro para você ser aprovado. Quanto a dicas e “truques” para responder questões, elas são válidas apenas como um recurso a mais para você aprimorar as suas chances, não cabendo se apoiar nelas como socorro para um estudo insuficiente.


Alexandre Henry

Professor e Juiz Federal


P.S.: caso você tenha Twitter, publico algumas coisas por lá. Perfil: https://twitter.com/henryprosa




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