Questão
DPE/GO - Concurso para Defensor Público de 3ª Categoria - 2014
Org.: DPE/GO - Defensoria Pública de Goiás
Disciplina: Direito Administrativo
Questão N°: 003

clique aqui e responda esta questão
Enunciado Nº 000526

J.C., servidor de determinado Estado-membro, após muitos anos de labor, e tendo preenchidos os requisitos legais, requereu a sua aposentadoria no regime próprio de previdência social, o que lhe foi concedido pelo órgão responsável da Administração Pública estadual, tendo passado a receber os respectivos proventos. Ocorre que, mais de um ano após o ato de concessão inicial da aposentadoria, o órgão de previdência estadual, apoiado em recomendação oriunda de processo no Tribunal de Contas do referido Estado-membro, verificou que o J.C. estaria recebendo valor de proventos maior do que seria efetivamente devido, uma vez que percebia determinada verba de auxílio que não lhe seria cabível. Consequentemente, J.C. teve seus proventos reduzidos e passou a ter descontado, mensalmente, os supostos valores recebidos indevidamente desde a concessão da aposentadoria.


Devido a esses fatos, J.C. procura a Defensoria Pública para buscar auxílio jurídico. Considerando o exposto, analise a conduta da Administração Pública, abordando os seguintes aspectos:


a) a regularidade ou a irregularidade do procedimento adotado pela Administração Pública, nos termos da Lei n. 9.784/1999 e, se aplicável ao caso, a incidência da Súmula vinculante 03 do STF;


b) a legalidade ou a ilegalidade do desconto imediato nos proventos da parcela indevida;


c) a retroatividade ou a irretroatividade da mudança de entendimento da Administração e os princípios administrativos aplicáveis em defesa do interessado.

Resposta Nº 001001 por Camila Ferreira Media: 10.00 de 3 Avaliações


Diante do caso concreto em análise, é importante trazer certas considerações acerca do ato de concessão de aposentadoria a servidor público. 

Assim, cabe ressalvar que, os atos administrativos se classificam, quanto à vontade para a formação do ato, em simples, complexos e compostos. Simples são aqueles atos que se aperfeiçoam com a manifestacão de uma única vontade. Compostos são os atos administrativos que decorrem de uma única vontade, mas que dependem de uma vontade acessória de outro agente ou órgão público, para que tenha validade e eficácia. E, por fim, complexos, são os atos cuja formação depende de mais de uma vontade, emanda por dois ou mais agentes ou órgãos públicos. 

Quando da análise do ato administrativo de concessão de aposentadoria a servidor público, depara-se com um ato complexo e, portanto, dependente, para a sua formação, de duas ou mais vontades, emanadas por dois ou mais órgãos. Porquanto, é necessário que haja, além da concessão inicial da aposentadoria pelo órgão ao qual o servidor está vinculado, a manifestação da vontade do Tribunal de Contas, a ser concedida dentro do prazo prescricional de 5 anos. Assim, só depois dessas duas manifestações, o ato estará perfeito e acabado. 

Dessa forma, no caso do J.C, a decisão tomada em processo do Tribunal de Contas, não precisa observar o contraditório, uma vez que o ato não fora ainda constituído, sendo um ato em formação, que necessida da aprovação de tal órgão para aperfeiçoar-se. 

Portanto, neste caso concreto, há a aplicação da súmula vinculante número 3 do STF, uma vez que, a decisão do Tribunal de Contas, fora tomada quanto a apreciação da legalidade da concessão inicial de aposentadoria. Sendo, assim, o procedimento fora realizado de forma regular.

Ato contínuo, como não havia, quando da concessão inicial da aposentadoria, a consolidação do ato, não há direito adquirido do servidor quanto ao recebimento da aposentadoria no valor anterior, a maior do que seria efetivamente devido. Dessa forma, cabe a redução imediata dos proventos. 

Contudo, não cabe a devolução dos valores recebidos, anteriormente, a maior, em razão da aplicação direta dos princípios da segurança jurídica e da proteção à confiança legítima. Assim, conforme tais mandados de otimização, não seria legítima a devolução dos valores recebidos a maior, por meio de desconto, uma vez que, o servidor público encontrava-se de boa-fé, devendo-se resguarda-lo de decisões surpresas realizadas pelo ente público, como forma de proteção ao cidadão.  

Ademais, conforme a lei 9784/99, artigo 2, parágrafo único inciso XIII, é vedada a aplicação retroativa de nova interpretação da norma administrativa. Portanto, apesar do ato de concessão de aposentadoria ainda não ter se aperfeiçoado – quando em momento anterior à decisão do Tribunal de Contas –, é resguardado o direito de não surpresa do cidadão de boa-fé, que não terá que pagar o valor recebido a maior, de forma retroativa.  

Outras Respostas deste Enunciado
Clique em cada nome para ver a resposta.

Elaborar Resposta

Veja as respostas já elaboradas para este enunciado

Elabore a sua resposta agora e aumente as chances de aprovação!


Faça seu login ou cadastre-se no site para começar a sua resposta.


É gratuito!


1 Comentário


  • 3 de Abril de 2018 às 18:45 Tom Miranda disse: 0

    Camila respondeu a questão abordando o tema demonstrando domínio do assunto partindo da classificação e definição dos atos e enfocando os princípio como mandamento de otimização violado. Ela respondeu de forma clara e profunda. Parabéns

Pessoas que mais responderam

01º Jack Bauer
422 respostas
02º MAF
358 respostas
03º Aline Fleury Barreto
224 respostas
04º Sniper
188 respostas
05º Carolina
155 respostas
06º SANCHITOS
127 respostas
07º rsoares
119 respostas
08º amafi
105 respostas
09º Ailton Weller
100 respostas
10º Guilherme
95 respostas
11º Gabriel Henrique
89 respostas
12º Ulisses de Lima Alvim
84 respostas

Ranking Geral

01º Jack Bauer
3374 pts
02º MAF
3086 pts
04º Aline Fleury Barreto
1931 pts
05º SANCHITOS
1403 pts
06º Sniper
1335 pts
07º Carolina
1176 pts
08º Guilherme
1079 pts
09º amafi
998 pts
10º rsoares
920 pts
11º Natalia S H
888 pts
12º Ailton Weller
792 pts
Faça sua busca detalhadamente

QUESTÃO

PEÇA

SENTENÇA

Mostrar Apenas: